de caráter religioso sempre.
A PAZ DE JESUS
(João 14.27)
Paz é produto que todos queremos em nossas estantes.
O mapa mundi das guerras deveria envergonhar o ser humano, cujos ”pés são ágeis para derramar sangue; ruína e desgraça marcam os seus caminhos, e não conhecem o caminho da paz. Aos seus olhos é inútil temer a Deus" (Romanos 3.15-18).
Não há uma geração que não tenha conhecido a guerra. Com a geração de Jesus Cristo não foi diferente. O Império Romano foi feito com guerras e se fazia com guerras. Na Palestina mesmo havia sérios conflitos por questões ideológicas. Jesus sabia o que estava dizendo quando, pouco antes de partir, prometeu:
"Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo" (João 14.27)
Quando Jesus fez esta promessa, Ele estava sofrendo. Ao seu redor, os conflitos se instalavam. No seu coração, havia paz. É por isto que diz “minha paz”. É como se dissesse: “ofereço-lhes a paz que estou sentindo apesar da aflição, porque o Espírito Santo me diz que sou amado pelo meu Pai e meu Pai estará comigo em todos os momentos”.
Jesus ofereceu paz aos seus discípulos. Ao longo de sua curta vida, saudava seus amigos com um “shalom”. Estamos, pois, diante de um oferecimento de Jesus. Outros mestres religiosos e líderes políticos também prometem a paz. Em que se distingue o oferecimento feito por Jesus de outros oferecimentos?
Quero sugerir três marcas da paz oferecida por Jesus, aos seus discípulos, da antiguidade e da modernidade.
1. A paz de Jesus possibilita o fim do conflito entre o homem e Deus.
Um antônimo de paz é ira. A Bíblia diz que Deus ficou irado com o pecado do homem.
Este é um conceito difícil de entender, mas vou ilustrar. Um dia destes entrei num elevador e cumprimentei genericamente a todos com uma “boa tarde”. Tinha mais três pessoas no carro. Nenhuma respondeu. Quando a primeira saiu, abri-lhe a porta, mas ela não agradeceu e nem me desejou “boa tarde”. Quando saíram as outras, não abri mais porta e igualmente não ganhei qualquer cumprimento. Dentro de mim, fiquei indignado com tanta falta de cortesia. Eu tinha que ficar chateado.
Recentemente em Joaçaba (SC), um grupo de jovens estuprou uma colega numa festa e filmou as cenas, postando-as depois na internet. Não foi um gesto revoltante, que nos deixa indignados?
Quando lemos ou vemos registros de crimes de pais contra filhos, não ficamos indignados? Quando andamos por nossa cidade e verificamos o descaso do poder público, com tantos buracos e tantos impostos, não ficamos indignados?
Quando notamos a desigualdade entre as pessoas, com as mulheres, por exemplo, ganhando menos que os homens nos empregos, não ficamos indignados?
O pecado deve provocar indignação em nós. Deus também fica indignado. Deus fica irado.
O homem, criado à Sua imagem-semelhança, livre, portanto, preferiu se afastar de Deus, passando a cometer todos os tipos de pecados que atentam contra a sua própria dignidade e contra a dignidade dos outros. Deus ficou indignado. Deus ficou irado com o pecado. Até hoje Ele fica indignado quando peco. Ele fica indignado porque isto me afasta dEle, que é santo. Ele fica indignado porque Ele conhece as conseqüências do meu pecado e sabe o preço que terei que pagar por minha escolha desastrada. A indignação divina é a indignação do amor. É por causa do Seu para comigo que Deus fica irado quando peco.
Que posso fazer quando peco? Devo ficar com medo da ira de Deus? Devo!
Devo ficar indignado comigo mesmo? Devo!
Há solução para mim? Há!
Deus providenciou a solução, ao enviar Jesus para morrer pelo meu pecado. Na morte de Jesus, os meus pecados foram mortos. Na morte de Jesus, a ira de Deus morreu. A morte de Jesus reconcilia o homem com Deus. Aconteceu o que foi descrito pelo apóstolo Paulo:
“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus" (Romanos 5.1-2).
Paz, portanto, é paz com Deus.
Gosto de imaginar a paz de Jesus como uma ponte, pela qual o homem chega ao território de Deus. Sem ponte, é preciso dar muitas voltas para se chegar aonde se quer, quando isto é possível.
Gosto de imaginar a paz de Jesus como um idioma comum ao homem e a Deus. Jesus providencia um idioma, com o qual o homem pode se comunicar com Deus.
Gosto de imaginar a paz de Jesus como o processo de comunicação humana. O ruído é o pecado que dificulta o entendimento entre o emissor e o receptor. Jesus arruinou o ruído. Sua paz é ausência de ruído. Jesus é a própria paz. Por isto, disse:
"Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo" (João 14.27)
Quem tem os pecados perdoados não precisa se perturbar, porque a dívida foi paga. Quem tem os pecados perdoados não precisa ter medo acerca do futuro, que já está garantido.
2. A paz de Jesus cria condições para a serenidade diante dos conflitos (confiança, esperança, sabedoria, equilíbrio).
Um cristão é sereno. Diante dos conflitos, tem a oportunidade de desenvolver a sua confiança. Diante dos problemas, alimenta-se de esperança. Ao passado pelas dificuldades, sua sabedoria se robustece. Em meio às pressões, consegue o equilíbrio.
Em termos ideais, assim deveria ser.
O cristão sabe que o socorro sempre virá. O nosso socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.
O cristão sabe que a história, quando terminar, vai revelar apoteoticamente um vencedor: Jesus Cristo.
O cristão sabe que tem na Palavra de Deus um tesouro de sabedoria que pode consultar para tomar suas decisões.
O cristão sabe que não está sozinho, porque Deus nunca o deixa.
No entanto, nem sempre “saber” se torna “viver”. Sem nos tornarmos vítimas da presunção, devemos continuar celebrando nossa confiança e esperança e buscando a sabedoria e o equilíbrio.
Por isto, Jesus nos promete:
"Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo" (João 14.27)
Jesus mesmo clareou melhor sua promessa, quando disse:
"Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo" (João 16.33).
Jamais uma pessoa tem apenas um problema. Todos temos pelo menos dois. Um é o problema real, que nos aflige. O outro é nossa atitude diante do problema, atitude que vai determinar nos conduzir para a vitoria ou para a derrota. A paz de Jesus é uma capacidade, dada pelo Espírito Santo, para lidarmos com o problema, sem fugirmos dele e sem nos desesperarmos com ele. A paz de Jesus é uma sabedoria que se alimenta da confiança na graça de Jesus.
Quem quiser paz precisa olhar para Jesus, que não olha para Pilatos e não quer ser como Pilatos; não olha para Herodes e não quer ser Herodes.
Quem olha para Jesus percebe um homem que foi afligido, como ninguém o foi na terra, mas venceu. Quem confia nEle vence também, sabendo que nada pode separar de Jesus aquele que confia em Jesus. Quem espera nEle é fortalecido com o poder da coragem. Que ouve as Suas palavras sabe como decidir. Quem O segue encontra equilíbrio.
3. A paz de Jesus deve ser vista como um desafio, contra a cultura da violência.
A este propósito, transcrevo partes de um artigo da psicóloga paulista Rosely Sayão, sob o seguinte título:
”Agressividade sem controle"
"Os adultos se encontram, de modo geral, com a agressividade descontrolada.Vemos isso nas brigas no trânsito, entre vizinhos, nas filas etc. Passou a ser "normal" receber ou dar cotoveladas, no sentido literal ou figurado, quando freqüentamos o espaço público. Ora, tal atitude inviabiliza a convivência social! É claro que o estado da convivência pública contamina e afeta os mais novos, que o reproduzem: onde há grupos de crianças e adolescentes, a agressividade se transforma em violência entre os pares e contra o patrimônio. Tal e qual os adultos, eles não se envergonham dos atos que praticam contra os outros, o que significa que pouco se importam com sua imagem perante o outro. O problema é que a vergonha moral é um sentimento importante na formação e na ação moral em sociedade. A educação não pode ser considerada a única condição para mudar a sociedade, mas é de grande importância no processo de manutenção da vida democrática. Precisamos honrar tal compromisso quando educamos filhos e alunos". SAYÃO, Rosely. Agressividade sem controle. Disponível em <http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br>.
“Passou a ser ‘normal’ receber ou dar cotoveladas” – diz a psicóloga, como se corroborasse o apóstolo Paulo, que escreveu:
"A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz" (Romanos 8.6).
Eu poderia citar a resistência pacífica, mas não vou fazê-lo, para valorizar a cultura da paz. Eu poderia estimular a cultura da paz mencionando a vitória que Martin Luther King Jr, contra um esquema mental rico e rígido.
Eu poderia recitar versículos de Jesus sobre a bem-aventurança da paz, mas vou dar lugar ao apóstolo Paulo, cujo conselho é admirável:
“Façam todo o possível para viver em paz com todos.
Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’, diz o Senhor. Ao contrário: ‘Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele’.
Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Romanos 12.18-21).
Quando subir no elevador, mesmo que ninguém vá lhe responder, cumprimente a todos. Quem tem a paz que Jesus Cristo dá por meio do seu Espírito Santo prefere viver como semeadores da paz, mesmo que a terra seja seca e esteja cheia de pedras e espinhos.
BÊNÇÃO
“Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo” (Romanos 15.13).